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sábado, 12 de janeiro de 2013

Três poemas de Dennis Radünz




LIQUIDAÇÃO


1/ [a mercadoria]


se nos anunciassem

o rim ¦ o rosto ¦ a ossamenta

o ser intérmino ¦ o ser cesso ¦

o sol ¦ o soro ¦ as serotoninas

como se sêmens e os insumos

no de mercar invalidassem

o repovoo dos produtos 

mas nos cruzasse a Mercancia 


e nos lucrassem-liquidassem

( uns apresados pelo preço

sob o rastreio das rotinas )

nos refugados das cidades

onde os sedados subsolam

em beberagens-rebentinas

ou insonoros se desossam

entre os dormidos da ermida


2/ [consumação]


acalmaríamos as marcas

e as modas-domas na acalmia

( entre as ilhas de calor

e as áreas de anomalia )

ou conteríamos o impulso

de revelarmo-nos no fogo

dos esqueletos repentinos

das estações desorbitadas


nos trocaríamos os corpos

( os saqueados pelo custo

e expostos fora da feição )

no emoliente das medulas

e compraríamos silêncio

e o uso exato do respiro

e escutaríamos nas torres

os sinais do Intransmissível  


            como se não comerciassem queimas do estoque de rebentos

            e as redes não irradiassem o rendimento das placentas  




MUITOS SERÃO OS CHAMADOS



soubesse ler o isótopo no esmalte sobre os dentes,

diria a datação do que se anunciasse na mesa dezesseis:

o pó. a pleura. os punhos. Priscila, primeiramente,

segundo, Manuel, seguintes, os despedidos de certidão

ou a suspeição de haver ouvido o nome de Ismael


de onde arvora Elisandra e andarilha o nervo vago

e os formulários de consulta das negativas de Eliandro?

a perdição de novas vias pela seção dos refugados?

mandam Antônio e Isadora ao profundo Protocolo

e Ana Paula perde a senha e o chamamento trinta e seis. 


soubéssemos dizer de que mananciais brotamo-nos

a solidez de água ou o código inato dos ossos do calcâneo,

de um Eduardo a uma Janete, de Janete a Reginaldo,

iríamos com Narciso, guiados pelo cego, além da partição,

ou pelas mãos de Anahí, o acidentado das entranhas


nos ruminando ainda em óvulo, dentro do útero de Estela,

nos ramos ruins ou ruinosos da floração respiratória.

que anunciassem Madalena ou aguardassem providências

de quem soubesse ler o alarme em Cristiane e Esaías:

a ocultação de Carolina nos descobriu no vão das vésperas



A SENTINELA DO MINISTÉRIO

DAS RELAÇÕES EXTERIORES

       

o súbito crepúsculo

das horas de Brasília

desossa o monumento

e os emolumentos


os mudos parlamentos

de raivas intestinas

desasam nos concretos

as áreas de Bastilha


( espelhos de cimento

de mirar ruinarias )

o escuro do cerrado ¦

do cassado ¦ da razia 




O escritor e editor Dennis Radünz, um dos nomes notáveis da nova geração de autores sulinos, nasceu em Blumenau (SC) e vive em Florianópolis. Publicou os volumes de poemas Exeus (1996, 2ª. edição, 1998), Livro de Mercúrio (2001) e Extraviário (2006) e Cidades marinhas: solidões moradas (2009), seleção de crônicas publicadas no Diário Catarinense (2004-2008). Lançará em 2013 o livro de poemas Ossama, de que fazem parte os três poemas aqui publicados.  As imagens são do artista goiano Siron Franco. 

3 comentários:

  1. Formidáveis, Dennis, e muito bem escolhidas as ilustrações do Siron.

    Parabéns!

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  2. Poesia incisiva.
    E parabéns ao Anelito pela revista.

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  3. Valeu, Anelito!

    E o Dennis Radünz
    é dezz,
    poeta dos bons.
    Abrass

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