Andorinha
As andorinhas existem!
Saíram das páginas do livro
E resolveram viver
Nas alvenarias
Do invisível.
Mas a tua ausência dentro de mim é puríssima dor.
Não há voo que dissipe minha esperança.
Nem vento, nem rosa, nem crença
Que suavize a melancolia parasita nos ossos.
Alheios desejos nos levaram
Para ilhas opostas:
Tu foste para Creta.
Eu, para o Crato.
E do anonimato dos dias
Tenho feito poesia secreta
E prosadura.
Diário da Separação
Ele vai e volta!
Cada vez mais perdulário dos meus perdões.
Cada vez mais disposto a cobrir de velários
Meus velórios matutinos.
Ele chega menino e se vai vilão,
Zorro assombrando minhas carnes.
Mostra-se quase factível de mudanças,
Mostra-se quase afeito aos meus caprichos de fêmea.
Inferniza minhas ínguas, lambe minha pelve:
– Perverso!
Deposita escarros nos vasos da minha Casa.
E vai-se, Tarzan depois da gripe.
Enredado em seus cipós,
Distante do chão-pergaminho
Das minhas Vertentes.
Ílio
Osso meu,
Na ilicitude dos meus requintes.
Cravado em terreno fértil de flamas,
Abnegado esterco na orgia
Dos meus desacertos correntes,
Corpórea mácula na vértebra do meu querer.
Homem Ilíaco!
Indagam sobre minhas adegas
E meus repastos de fêmea acometida
Pelas danosidades da carne.
Indagam sobre minhas vestes e os meus vexames.
Apontam-me entre as professas
Enquanto devassam meus pergaminhos
De mulher conhecedora de homem.
Indagam sobre os meus tormentos
Indagam sobre certas Adagas
Fincadas no lastro da minha cama.
Baiana de Ilhéus, Rita Santana é um dos nomes inquietos da cena literária atualmente no Estado de Pedro Kilkerry e Antônio Risério. Publicou os contos de Tramela em 2004 e os poemas de Tratado das veias em 2006 e Alforrias em 2011, participou de várias antologias e eventos, como a Bienal do Livro da Bahia de 2011 e o Festival Ler Amado em 2012. Imagens de Frida Kahlo, uma das grandes admirações da poeta e prosadora.