Narrativa da poesia na rua do pôr do sol
ainda o mesmo pôr do sol ... na rua
sem rua mas a andar por aí na forma original dum espanto também essa lua de ruas
pois é... esses são os frutos... aqueles são os sabores... todos limados e arredondados noites de actividades essa informação toda nenhum registo... era a nitidez dum sonho seguinte.
um ponto antes de noites e outro ponto entre actividade e essa ignorados... separa as noites seguintes dos frutos e dos sabores arredondados desse luar de ruas sem rua ... Ou seja o principio de onde se dissolvem os sentidos eramos nós a vírgula antes do mas e do também.
Pois é separa... esses são os frutos... aqueles são os sabores... todos limados e arredondados. Noites de actividades. Essa informação toda de nenhum registo... era a nitidez ainda dum sonho seguinte.
Sem rua, mas a andar por aí na forma original dum espanto, também essa lua de ruas
Ainda ou seja também o mesmo pôr do sol ... na rua da semana cheia de sol sem o sol do mês nestes doze meses de vale no loge.
A narrativa de silêncio no poema é a semântica dessa e não daquela sintaxe
Ideograma o conto do charuto
O fume espesso como dança dum caçador (Njimba)
desse vinho encravado na carne. Era o espaço dum charuto contrariado.
Atravessada d’águas as vozes cinzentas as folhas iguais pelo charuto
o chão, o desenho de areia geométrica e afastada música
mais próxima o copo e u bolo campo de colheitas.
Essa mesma mesa diferenciada lavra os testos de penela.
Tragam também os acordes e todas as promessas das esteiras.
Tecidas sem som esse lugar consumido de batuques em dentadas as danças. Atualizadas
travessuras não, há mais as fronteiras trazidas as danças de caçadores Njimba.
Desenhos de areia
os desenhos de areia são formas de silêncios construídos no chão sem lápis sem convenções
codificadas as vontades ventos areia deserto cálculos são mesmo olhos volitivos as linhas
as narrativas os acidentes olhos de sol o sal do sol também
os verbos atravessados por cabelos crescidos bagres saujoka muna saú
engula também a saliva embora fale sem saliva u rio e a água
as vontades são mesmo securas esses desenhos de areia o deserto sol
ABREU PAXE (1969) é poeta, ensaísta e professor angolano. Publicou A chave no repouso da porta em 2003 e O vento fede de luz em 2007, coletâneas de poemas. Membro da importante União dos Escritores Angolanos, reside atualmente na cidade de São Paulo, onde realiza doutoramento em Comunicação e Semiótica na PUC. O poemas aqui publicados são inéditos. As imagens são do artista plástico, também angolano, António Tomás Ana, o Etona, da mesma geração de Paxe.