POIESIS
MITOPOIESIS
METAPOIESIS
AUTOPOIESIS
(2012)
EFEITO SECRETO
Um poema age no
mundo
mesmo que ninguém
o leia.
Atua em segredo e
fundo,
tudo enreda em sua
teia.
(02.06.2012)
SENHA
hora propícia
porta do fundo
chave na mão
hora propícia
porta do fundo
chave na mão
(02.01.2012)
AOS PÉS DA COBRA GRANDE
Iconha ou Jacaraípe?, hesita Drida,
mais para dríade desencantada, este sábado,
neste bosque de solidão, Jardim da Penha.
Iconha ou Jacaraípe? Que importa aonde ir?
Sortearemos a sorte da própria sorte!
Recorramos ao oráculo, mas aperta um, primeiro,
e tratemos de secar este litro de conhaque.
A sorte há de sortear-se por meio de nossas mãos,
nossos pés volitivos dançarão roteiros ébrios,
regidos com rigor pela música das esferas.
Que importa aonde ir este final de semana?
Que importa aonde ir em qualquer tempolugar?
Que importa aonde ir? Vamos beber e fumar!
Ouroboros sempre há de morder a própria cauda,
ciclo do tempo, círculo fechado, eterno circo.
Assim ou assado seja, Ará Mbói! Arô Moboi!
(10/09/1986)
PEGAÇÃO SAGRADA
Põe tua mão aqui
debaixo
de minha coxa,
onde Abrahão
pediu que um servo
o tocasse,
em nome do Deus
dos deuses,
Senhor dos Céus e
da Terra,
onde o anjo do
Senhor tocou
o relutante Jacob,
que assim
se transformou em
Israel,
que lembrou da
sagrada aliança
em seu leito de
morte, onde pediu
ao mais amado
filho que o tocasse
no mesmo lugar
sagrado e consagrado.
(30/07/2009)
SENHA
porta do fundo
hora propícia
chave na mão
(02.01.2012)
REPENSANDO MALLARMÉ
Não li todos os livros, mas já sei
que a carne é alegre, e o espírito
tem sido um tolo e desastrado rei
que nem sequer conhece o seu palácio.
Fugir, fugir, para onde? Nem as aves
são livres neste mundo; eu não irei
para lugar nenhum, deixem-me aqui.
Não há por que fugir, e nem de quê.
O jardim que anelo está em mim,
nesta ilha central, e o mar é o amor.
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(2012)
Não li todos os livros, mas já sei
que a carne é alegre, e o espírito
tem sido um tolo e desastrado rei
que nem sequer conhece o seu palácio.
Fugir, fugir, para onde? Nem as aves
são livres neste mundo; eu não irei
para lugar nenhum, deixem-me aqui.
Não há por que fugir, e nem de quê.
O jardim que anelo está em mim,
nesta ilha central, e o mar é o amor.
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(2012)
POESIA: REVELAÇÃO
Tenho falado muito de poesia como construção, criação de realidades, pessoais e sociais, históricas, e não apenas poemas, objetos estéticos. Insisto numa perspectiva mágica, uma ação criativa e transformadora da vida e seus impasses. Poesia: arquitetura, engenharia; criação e transformação da história.
Enfim, a poesia como um processo. E também produto. Mas sempre um fazer, uma ação ou realização humana, via palavra (e outros códigos, por que não?).
Entretanto, quase nada falo do outro lado: a revelação.
Sem negar o quanto possa ter de místico, é preciso entender que a revelação não precisa necessariamente ser de coisas, fatos ou verdades de outro mundo, fora ou longe do nosso. Conhecemos tão pouco da realidade dada, herdada, ao alcance de nossos sentidos, tão limitados e confusos.
Existe muita mistificação em torno do fenômeno da poesia, como se a inspiração fosse algum recado de outro mundo. Pode até ser, em casos raríssimos, mas ninguém que eu saiba está disposto a adotar a poesia como religião, exceto talvez este que vos fala. Inspiração, para mim, não precisa ser mais que percepção, acesso - intuitivo, acidental ou metódico - a informações guardadas na memória da humanidade.