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segunda-feira, 2 de março de 2015

Cinco poemas de Ricardo Pozzo

Gárgula

Dois haitianos dividem
o cachimbo
com a sinhazinha ecoville
na sarjeta, sob escombros
da senzala;

passo ao lado.

Na real, azumbizados
seduzidos pela pomba
giratória dominante,
vestida em sua melhor pele
cor de leite,
que dos negros jorra

entre seus lábios.










Pra colher alumínio


No terminal a
monocromática
madame, em inflexão
sexual, paralisa
ao lado de
um haitiano.

Enquanto um
Van Gogh
sertanejo,
tão mais
sofrido
que Descartes,
entra em um
latão que se
arregala
de medo.






Anthropocetáceo



Igual a
personagem
desconfia
do ator que é,
em voz e carne,

ao remover
a primeira
camada
de maquilagem,

anthropocetáceo
emerjo,

do frívolo
mar
espesso
das
convenções
sociais.








O Ministério do Amor Adverte


Se Hermógenes é o Grande Irmão, com seus dardos &drones, que a tudo
monitora do alto de sua pirâmide construída com lingotes áureos, Brad
Manning é Diadorim.

Porém, já no filme de Glauber, algo de Riobaldo mira pelos nervos óticos
do falso fauno Clóvis Bornay, igual ao Lorde Cigano, gralha da Ilha de
Huxley, que denuncia a proliferação excessiva da mídia televisiva, no
resultado de manter o controle remoto das intenções de voto.







  
Aracnídea


Subcutânea
aranha
ferina

introduz,
em veia
bailarina,

poção

contra -
indicada
à cicatrizes

& queimaduras,

e
teu rosto
resplandece
feito Luas,

anti-
eclipse,
razão
erradicada.









Autor do livro Alvéolos de Petit Pavê (Editora Patuá, 2015), Ricardo Pozzo nasceu em Buenos Aires (AR) e vive em Curitiba (PR). Poeta, fotógrafo e músico, é um dos organizadores do Vox Urbe, projeto literário do WNK Bar, Editor Assistente do Jornal "RelevO" e Curador do projeto "Pássaros Ruins", websérie de poesia. As imagens são do afroamericano, filho de pai haitiano, Jean-Michel Basquiat (1960-1988).

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