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terça-feira, 9 de julho de 2013

Dois poemas de Guilherme Rodrigues









I. incorporo a retina






meu olho olha
meu corpo de fora.

meu corpo visa 
a um corpo-retina.

meu olho é olho
e o que incorpora.

meu corpo é porto
do olho que avista.

meu corpo olha,
à fresta-
retina,

o olho-corpo
do corpo
que é visto

e, à vista deste corpo, baço, limpa
com a própria mão do corpo sua pupila:

meu corpo é olho
(um corpo que o vê);

e oferta o rosto
a um olho que sinta.

meu olho é corpo –
um olho que é visto.

meu corpo e o olho:
o que vê e o que é meu.

















 II. a retina me incorpora!







meu corpo para
a um olho estranho,

que, por ser olho,
tem um corpo vivo,
                              
que, sendo outro,
é um corpo estranho,

mas, por ser olho,
mais estranho ainda,

e, por ser corpo,
traz a si meu corpo

e olha do escopo
o meu corpo todo

e o meu corpo-olho,
(ou: muito-pouco)

capta o outro olho 
 – corpo-imã –

que captado, corpo,
por meu olho,

me incorpora
à sua retina
















Há vários anos agitando a cena poética a partir do grande sertão rosiano, destacando-se como a mais notável "persona" cultural do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, Guilherme Rodrigues, poeta e professor de literatura brasileira, chega, finalmente, a reunir seus poemas vociferantes em livro. Retinas, de que constam estes dois trabalhos aqui estampados, será lançado em agosto próximo, publicação da Editora Catrumano, com orelhas de Jorge Mautner e prefácio do português Fernando Aguiar. As imagens, dialogando com a visceralidade que perpassa o gesto do jovem poeta mineiro, são do irlandês Francis Bacon (1909/1992), o homem que destruiu a ordem estabelecida no corpo humano. 

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