I. incorporo a retina
meu olho olha
meu corpo de fora.
meu corpo visa
a um corpo-retina.
meu olho é olho
e o que incorpora.
meu corpo é porto
do olho que avista.
meu corpo olha,
à fresta-
retina,
o olho-corpo
do corpo
que é visto
e, à vista deste
corpo, baço, limpa
com a própria mão do
corpo sua pupila:
meu corpo é olho
(um corpo que o vê);
e oferta o rosto
a um olho que sinta.
meu olho é corpo –
um olho que é visto.
meu corpo e o olho:
o que vê e o que é
meu.
II. a retina me incorpora!
meu corpo para
a um olho estranho,
que, por ser olho,
tem um corpo vivo,
que, sendo outro,
é um corpo estranho,
mas, por ser olho,
mais estranho ainda,
e, por ser corpo,
traz a si meu corpo
e olha do escopo
o meu corpo todo
e o meu corpo-olho,
(ou: muito-pouco)
capta o outro olho
– corpo-imã –
que captado, corpo,
por meu olho,
me incorpora
à sua retina
Há vários anos agitando a cena poética a partir do grande sertão rosiano, destacando-se como a mais notável "persona" cultural do Salão Nacional de Poesia Psiu Poético, Guilherme Rodrigues, poeta e professor de literatura brasileira, chega, finalmente, a reunir seus poemas vociferantes em livro. Retinas, de que constam estes dois trabalhos aqui estampados, será lançado em agosto próximo, publicação da Editora Catrumano, com orelhas de Jorge Mautner e prefácio do português Fernando Aguiar. As imagens, dialogando com a visceralidade que perpassa o gesto do jovem poeta mineiro, são do irlandês Francis Bacon (1909/1992), o homem que destruiu a ordem estabelecida no corpo humano.
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