Chove
não choro
mais farto eu?
a nuvem que jorra?
2.
passei a vida inteira desperto
à espera de lejano verso terno
agora creio que ele virá
durante meu sono eterno
3.
Onde os habitantes
famintos noturnos
se aquecem com fogueiras de farpas
trocadas na antemanhã gelada
4.
Mandar aos ares essas árias desafinadas que amofinamos no
lado oco de dentro de nós
5.
Quando o pica pau for a sua companhia num quarto de hotel,
não pense que a vida é assim tão distraída. Saia para ver um filme, saia para
ver o crime, inventa uma nova rima fora da poesia, bora prouto dia, agora está
tudo bem, então, relaxa que em tudo há uma graça: para cada louco uma praça,
para cada tião uma marina, uma canção que faça adormecer, um desenho pra
aliviar a dor, assim sem sentido como tudo for.
Poeta e músico mineiro nascido às margens da serra da Mantiqueira, na sulina Itajubá, e radicado há muitos anos na sertânica Montes Claros, no norte de Minas, Fernando
Salomon Bezerra é daqueles guardadores de poemas sutis, hauridos na experiência enviesada de existir. Ensina letras espanholas na Unimontes e faz doutorado no momento na UFMG, onde realizou seus estudos de graduação e mestrado. Ainda inédito em livro. As imagens são do catalão Joan Miró (1893/1983), o homem que escancarou as portas da percepção.
Filigrana, escancaro de percepção (como diz Anelito sobre Miró, trazido muito a propósito à cena dos poemas de Bezerra), escrita porosa, de uma antemanhã onde nos aguardam outros sentidos.
ResponderExcluirAlexander Nassau
Obrigado pela leitura atenta, Alexander. Desculpe-me a pressa da resposta.
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