DEDOS DE VENTO
Tu eras a mão parada a pensar gestos;
jamais saíste
de tua cabeça.
Vieram os
dedos do vento
e farfalharam
páginas
de ilegível
branco.
Depois
aconteceu um sonho constelado de cores cifradas,
mas ao corpo
esmorecido da passada inquietude
não cabia mais
devassar um matagal de dúvidas.
No fim sobrou
essa mão parada
a não pensar
mais nada
...e tudo mais
que se movia ao redor
era por força
dos dedos do vento.
ACORDA
...vê se
vaza
(dê largas à pressa contida)
se aparte dessa parte do mapa
...vê se leva
contigo essa chã palavra
(bolor de relicário quebrado)
...vê se vale
a pena por fim entintada
(ao punho constante ligada)
...vê se vela
(com lágrimas enfim estiadas)
o cadáver da vida sonhada
(dê largas à pressa contida)
se aparte dessa parte do mapa
...vê se leva
contigo essa chã palavra
(bolor de relicário quebrado)
...vê se vale
a pena por fim entintada
(ao punho constante ligada)
...vê se vela
(com lágrimas enfim estiadas)
o cadáver da vida sonhada
e vê se acorda
POST MODERNUS
é tipo tipografia decorativa
(a grife da vanguarda...)
escribafônico fetiche
é feito frases feitas
destituídas de qualquer efeito
(...nada dista...)
senão fonético
(...da vã tradição)
parece raro sendo apenas rarefeito
Na Belo Horizonte do fim dos anos 90 e início dos anos 2000, Gilson Ribeiro, egresso do sul do Estado de Minas Gerais, apresentou-se como um dos talentos mais notáveis da cena poética, com uma postura despretensiosa, um olhar naturalmente desencantado para o mundo, um extraordinário desinteresse pelas mitologiazinhas burguesas que animam a vida literária. Em 2002, tive o prazer de inlcuí-lo na antologia Fenda 16 poetas vivos, que organizei para a Orobó Edições, única publicação do poeta até agora em livro. As três imagens que acompanham os poemas nesta página são ínéditos também de Ribeiro, vestígios do espanto que marca sua relação íntima com a metrópole.
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