Os sete matizes da suspeita
A
mão cheia de anéis tira a máscara com rosto de mulher – outra máscara com rosto
de criança – outra máscara com rosto de bandido – outra máscara com rosto de
louco – outra máscara com rosto de lobisomem,
animal,
pura voz
de dor.
Mão
sem veias, com fios elétricos desencapados ao redor dos ossos. Sete anéis em
cinco dedos, por trás de tudo isso um matiz de rosa impossível, cor de rosa
contraindo-se como sangue sugado por buraco-negro de sete estrelas conjugadas:
a cidade é pintada com as cores delirantes do general lírico.
Seu
nome consta nas listas de torturadores.
1.
Com os dois
olhos que brotam gotas de pus na extremidade de dois canudos cheios de cerda e
lodo, o molusco tateia a realidade externa ao seu exoesqueleto, sua carne
frouxa não seria páreo para a força bruta dos peixes e suas bocas de centenas
de dentes e por isso ele se esconde por trás de algo que simula a
impassibilidade mineral – ele tateia, gira os olhos pelo ambiente, antes de
sair de dentro de sua caverna óssea para a caçada. Pois é, o nosso torpe amigo
também é predador.
Há
predadores em toda parte, inclusive por dentro de sua carne viscosa, nojenta de
engolir como um chiclete. Se não foi hoje, vai ser amanhã.
Oceano é destino bruto e sem lei.
2.
Aquele planeta sombrio é um
aparelho de sucção de energia de explosões cósmicas, como os ouvidos sugam
palavras absurdas que tentam capturar a delicada malha do caos, há um homem
usando um terno de fina qualidade escrevendo roteiros históricos nos porões da
tua mente e tua boca vomita e os dedos teclam –
Como
é gostoso o gozo fascista.
Poeta e historiador, Daniel
Faria é um dos nomes expressivos do cenário poético paulistano hoje. Escreveu O Mito Modernista, publicado pela
EdUFU em 2006. Publicou ainda Matéria-Prima, pelo projeto Dulcinéia Catadora em 2007, e foi incluído na Pequena Cartografia da Poesia Brasileira Contemporânea,
organizada por Marcelo Ariel e editada pela Caiçaras. Seu Livro de Orações foi
lançado em 2012, pela série Caixa Preta da Lumme Editor. Outros textos de sua autoria
podem ser encontrados no blog linguaepistolar.blogspot.com e na revista
Mallarmargens. As imagens são do extraordinário pintor colombiano Fernando Botero (n. 1932), o mestre da artecrítica pela via da abastança corporal.
ôpa. obrigado! gostei demais das referências ao Botero.
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