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sábado, 4 de maio de 2013

Três poemas de Samuel Pimenta








A casa ficou nua de ti



A casa ficou
nua de
ti.
No lugar que era o
teu, sobra a imagem que
projecto do teu corpo, do
sorriso que o
éter esculpiu para o
sempre.
Despiram-se as paredes do
perfume que era pele
tua, abraço
imaterial que te fazia
presente.
A casa ficou
nua de
ti
quando a porta se
fechou com um
beijo.

Despiu-se a
casa e despi-me
eu
do feitiço de
olhar-te.
E no dia do
regresso teu
vestir-se-ão de
tia a porta, o
chão, a parede
e o homem que
te vestiu por dentro
logo que te
viu.


Lisboa, 29 de Novembro de 2012 - 01h04m













A queda




Caíram as
casas sem
chão.
Caíram as
gentes que
viviam nas
casas sem
chão.
Caiu meu
pai, minha
mãe. Caíste tu,
amigo amor amiga
amor, caíste
tu. Caíram
todos. Caíram
todos os homens
e mulheres que
ainda resistiam
de pé. Caiu o
chão que os
sustinha. Caíram
as casas erguidas sobre o
chão que os
sustinha. Caíram
todos. Caíram
todos. Caíram
todos.
Caiu o vertical
e digno
humano.

Resisto de
pé, olhar em
frente. Caiu o
chão que me
sustinha.
Resisto de
pé, a dor por não
cair. Enquanto
houver um homem
que resista não cairá o
chão que sustém o
mundo.



Lisboa, 23 de Julho de 2012 – 13h02m












Auschwitz






no Dia Internacional em Memória
das Vítimas do Holocausto


O horror
humano queimou a
pele, quebrou os
ossos, bebeu a
vida em copo
vil.

A forma humana
cedeu. A mente
humana cedeu.

Coroaram de reis os
loucos e à humanidade
embriagada venderam
o embuste de uma tirania
sem rosto.

Ainda corre na terra
o fel e o sangue
de quem morreu
sem saber porquê.




Alcanhões, 27 de Janeiro de 2013 - 13h13m









Samuel Pimenta (1990) pertence à mais jovem geraçção de autores portugueses. Poeta e cronista, nasceu em Alcanhões e estudou Comunicação na Universidade Nova de Lisboa. Escrevre na revista eletrônica Rede Virtual e organiza concorridas Tertúlias literárias em Lisboa. Ainda sem livro solo publicado, está presente em antologias como Jovens escritores, publicada pelo Clube Português de Artes e Ideias em, 2012. As imagens são da extraordinária artista plástica judia Edith Birkin (1928), que sobreviveu à monstruosidade do campo de concentração.