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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Três poemas de Gilson Ribeiro





DEDOS DE VENTO

Tu eras a mão parada a pensar gestos;
jamais saíste de tua cabeça.

Vieram os dedos do vento
e farfalharam páginas
de ilegível branco.

Depois aconteceu um sonho constelado de cores cifradas,
mas ao corpo esmorecido da passada inquietude
não cabia mais devassar um matagal de dúvidas.

No fim sobrou essa mão parada
a não pensar mais nada

...e tudo mais que se movia ao redor
era por força dos dedos do vento.








ACORDA

...vê se vaza
(dê largas à pressa contida)
se aparte dessa parte do mapa
...vê se leva
contigo essa chã palavra
(bolor de relicário quebrado)
...vê se vale
a pena por fim entintada
(ao punho constante ligada)
...vê se vela
(com lágrimas enfim estiadas)
o cadáver da vida sonhada
e vê se acorda







POST MODERNUS

é tipo tipografia decorativa
(a grife da vanguarda...)
escribafônico fetiche

é feito frases feitas
destituídas de qualquer efeito
(...nada dista...)
senão fonético
(...da vã tradição)

parece raro sendo apenas rarefeito






Na Belo Horizonte do fim dos anos 90 e início dos anos 2000, Gilson Ribeiro, egresso do sul do Estado de Minas Gerais, apresentou-se como um dos talentos mais notáveis da cena poética, com uma postura despretensiosa, um olhar naturalmente desencantado para o mundo, um extraordinário desinteresse pelas mitologiazinhas burguesas que animam a vida literária. Em 2002, tive o prazer de inlcuí-lo na antologia Fenda 16 poetas vivos, que organizei para a Orobó Edições, única publicação do poeta até agora em livro. As três imagens que acompanham os poemas nesta página são ínéditos também de Ribeiro, vestígios do espanto que marca sua relação íntima com a metrópole.    


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